segunda-feira, 8 de março de 2010

Brasil mantém título de país dos "políticos que não amam as mulheres"

Neste Dia Internacional da Mulher, as brasileiras encaram um fato amargo e já antigo: 25 anos depois da volta da democracia e 22 anos após a promulgação da Constituição, que assegurou a igualdade entre os sexos, a participação efetiva das mulheres na política do país ainda beira o insignificante. Exemplo disto é o ranking criado pela União Interparlamentar (IPU, na sigla em inglês), uma organização internacional de parlamentos, que coloca o Brasil em 110º lugar entre 140 países em termos de presença das mulheres no Poder Legislativo. Atualmente, o Congresso conta com 45 deputadas federais (8,8% do total) e dez senadoras (12,3%). Este é o segundo pior índice da América do Sul, à frente apenas da Colômbia, que ficou em 113º lugar no levantamento.


Na opinião da cientista política e professora da Universidade de Brasília (UnB) Lúcia Avelar, vencer o descaso e a rejeição dentro dos próprios partidos é um dos grandes desafios femininos no meio político. "Os partidos são muito refratários. Eles acham que a entrada das mulheres na política não tem a menor importância, e inclusive as veem como competidoras, como se elas quisessem tomar o lugar deles", afirma. Avelar diz ter entrevistado e conhecido mulheres que encararam os partidos "de peito aberto" e tentaram provocar mudanças, mas que acabaram desistindo frente às dificuldades.

Embora afirme nunca ter sofrido discriminação, a senadora e pré-candidata à Presidência Marina Silva (PV-AC) concorda que as brasileiras ainda sofrem muito na comparação com os homens. A senadora reconhece as conquistas obtidas nos últimos cem anos, mas destaca o fato de, no Brasil, haver o desequilíbrio principalmente econômico entre os sexos, com mulheres ainda ganhando 25% a menos que os homens, mesmo trabalhando nas mesmas funções. Para Marina Silva, o ideal no país seria criar estruturas que permitissem uma “valorização não tutelada” das mulheres.

Em 2009, uma pesquisa da empresa júnior de consultoria política Strategos, realizada junto a 120 deputados federais e 30 senadores, constatou que apenas 29,4% dos entrevistados eram favoráveis a algum tipo de lista fechada com alternância entre homens e mulheres. Mais da metade (51,3%) eram totalmente contra a reserva de vagas para os sexos. Sobre este levantamento, Lúcia Avelar chega a brincar, dizendo que o seu resultado criou um bordão na UnB: "os políticos que não amam as mulheres" (uma analogia ao best-seller 'Os Homens que Não Amavam as Mulheres', do sueco Stieg Larsson).


A cientista política ressalta, no entanto, que a participação das mulheres na política é expressiva no âmbito de ONGs e movimentos sociais, como de quilombolas, catadores de lixo, grupos de economia solidária, de defesa dos povos indigenistas e dos direitos humanos. "Essa história de que mulher não está na política não é verdadeira. Se elas não estão na política formal, é porque os partidos têm certa ojeriza delas", afirma Avelar. Ela alerta para o fato de que, entre as mulheres que têm cargos públicos, nem todas são ligadas à causa feminina. "Muitas tiveram facilidade pra chegar à política, por motivos familiares. Às vezes, a gente até desanima, porque ouvindo essas mulheres falarem, se vê que elas têm um discurso muito antigo", afirma.

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